20/08/2025

Esclerose Múltipla e Gravidez: riscos, tratamentos e cuidados

Por Dr Emerson Milhorin

Receber o diagnóstico de esclerose múltipla (EM) costuma trazer diversas dúvidas sobre o futuro. Uma das mais comuns entre mulheres em idade fértil é: “Posso engravidar com segurança?”. A boa notícia é que, com acompanhamento adequado, a gravidez é possível e pode transcorrer de forma segura. Neste artigo, você vai entender como a esclerose múltipla se comporta durante a gestação, quais tratamentos são recomendados, se há riscos para o bebê e como a amamentação deve ser conduzida.

Gravidez e progressão da Esclerose Múltipla

Durante a gravidez, especialmente no segundo e terceiro trimestres, é comum que ocorra uma redução significativa nas crises da esclerose múltipla. Estudos indicam uma queda de até 50% nas recaídas. Isso se deve às alterações hormonais e imunológicas naturais da gestação, que favorecem a estabilidade da doença.

No entanto, o período pós-parto exige atenção redobrada. Nas primeiras 12 semanas após o nascimento do bebê, há um aumento considerável do risco de surtos. Por isso, é essencial que o planejamento do parto inclua estratégias de controle e acompanhamento neurológico frequente. Isso permitirá uma transição mais segura entre o final da gestação e os primeiros meses de maternidade.

Tratamentos e medicamentos durante a gravidez

O uso de medicamentos modificadores da doença (TMD) deve ser cuidadosamente avaliado antes da concepção. Alguns imunomoduladores e imunossupressores são contraindicados durante a gravidez, devido ao risco potencial para o desenvolvimento fetal. Por isso, é comum que o neurologista oriente a suspensão de determinadas medicações com semanas ou até meses de antecedência.

Por outro lado, existem alternativas mais seguras que podem ser utilizadas, dependendo do perfil clínico da paciente. O planejamento ideal envolve uma conversa franca com sua equipe médica sobre o desejo de engravidar, para que as medicações possam ser ajustadas com antecedência, garantindo segurança tanto para você quanto para o bebê.

Há riscos para o bebê?

De forma geral, a esclerose múltipla não aumenta o risco de malformações fetais nem está associada a complicações diretas na gestação, como parto prematuro ou restrição de crescimento intrauterino. A doença em si não impede a gravidez, e o bebê não herdará diretamente a condição, embora possa haver uma predisposição genética leve.

É importante destacar, porém, que algumas complicações podem surgir caso a paciente apresente surtos graves ou esteja utilizando medicamentos incompatíveis com a gestação. Por isso, o pré-natal deve ser feito de forma conjunta entre o obstetra e o neurologista, para que qualquer sinal de instabilidade seja identificado e tratado precocemente.

Amamentação e Esclerose Múltipla

A amamentação exclusiva até os seis meses de vida é recomendada pela Organização Mundial da Saúde e também oferece benefícios importantes para mulheres com EM. Estudos mostram que a amamentação pode reduzir o risco de surtos no período pós-parto, ajudando a estabilizar o sistema imunológico da mãe.

No entanto, assim como na gestação, é necessário avaliar quais medicamentos podem ser retomados após o nascimento. Algumas terapias são compatíveis com a lactação, enquanto outras exigem o desmame precoce ou a suspensão temporária da medicação.

A decisão de amamentar deve ser discutida individualmente, levando em conta o histórico da doença, o risco de recaída e a disponibilidade de apoio familiar e médico.

A esclerose múltipla não é uma barreira definitiva para quem deseja engravidar. Com planejamento adequado, acompanhamento multidisciplinar e ajustes no tratamento, é possível viver a gestação com segurança e bem-estar. A chave está em não tomar decisões isoladas. Se você convive com EM e pensa em engravidar, converse com seu neurologista o quanto antes. Cada caso exige uma avaliação personalizada, sempre com foco na sua saúde e na do seu bebê.