27/10/2024

Como o vício em telas atrapalha o desenvolvimento cerebral?

Por Dr Emerson Milhorin

Com o avanço da tecnologia, o uso de dispositivos eletrônicos se tornou uma parte essencial do cotidiano, especialmente para crianças e adolescentes. Embora tablets, smartphones, computadores e videogames tenham seus benefícios, o uso excessivo pode gerar efeitos negativos no desenvolvimento cerebral. O vício em telas é uma questão preocupante que vem sendo amplamente discutida, principalmente por seus impactos sobre a cognição, interação social, saúde mental e bem-estar infantil.

1. Impacto no desenvolvimento cognitivo

O cérebro de crianças e adolescentes está em constante evolução, particularmente nas áreas ligadas à memória, raciocínio, atenção e resolução de problemas. No entanto, o uso exagerado de telas pode prejudicar esse desenvolvimento. Atividades como jogar videogames ou assistir vídeos, quando feitas em excesso, tendem a ativar respostas automáticas do cérebro, em vez de estimular o pensamento crítico.

Diminuição da Atenção: Expor-se por longos períodos às telas pode levar a uma dificuldade em manter o foco em tarefas que exigem maior esforço mental, como as escolares. O conteúdo digital, frequentemente rápido e interativo, pode prejudicar a capacidade de concentração e a persistência em atividades do cotidiano.

2. Dano à memória e ao processamento de informações

A exposição prolongada a dispositivos eletrônicos compromete o desenvolvimento de habilidades essenciais, como o armazenamento e o processamento de informações. Atividades que não exigem interação ou reflexão — como vídeos passivos — reduzem o tempo dedicado a práticas que estimulam essas capacidades, como leitura ou brincadeiras criativas.

Além disso, o excesso de informações rápidas e constantes pode gerar uma “sobrecarga cognitiva”, onde o cérebro, bombardeado por estímulos, não consegue processar tudo corretamente. Com isso, pode haver dificuldades na retenção de informações e na aplicação prática de conhecimentos adquiridos.

3. Prejuízos à interação social e ao desenvolvimento emocional

O desenvolvimento emocional de uma criança é fortemente influenciado pelas interações sociais. Entretanto, o tempo excessivo em frente às telas reduz as oportunidades de contato humano, fundamentais para aprender a expressar emoções e desenvolver empatia.

Isolamento Social: Muitas crianças que passam horas conectadas podem preferir interações virtuais a contatos presenciais, o que prejudica o desenvolvimento de habilidades sociais, como a comunicação eficaz e a resolução de conflitos.

Dependência de Gratificação Instantânea: Jogos e aplicativos frequentemente oferecem recompensas rápidas, condicionando o cérebro das crianças a esperar por gratificações imediatas em outras áreas da vida. Isso pode gerar frustração ao lidar com atividades que exigem paciência, como tarefas escolares ou esportes.

4. Distúrbios do sono e saúde mental

O uso prolongado de dispositivos eletrônicos, especialmente antes de dormir, pode prejudicar a qualidade do sono. A luz azul emitida pelas telas interfere na produção de melatonina, hormônio que regula o sono, resultando em insônia ou sono de má qualidade. Isso afeta o desenvolvimento cerebral, já que o sono é essencial para a consolidação da memória e a regeneração celular.

Além disso, o uso excessivo de telas tem sido associado ao aumento de problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão. Redes sociais, em particular, promovem comparações constantes, gerando sentimentos de inadequação e baixa autoestima.

5. Alterações no controle motor e coordenação

O tempo excessivo em frente às telas também pode prejudicar o desenvolvimento motor de crianças. Atividades físicas, como correr, pular e manipular objetos, são essenciais para o desenvolvimento da coordenação motora. Quando essas atividades são substituídas por atividades sedentárias, como o uso de dispositivos eletrônicos, o desenvolvimento motor pode ser prejudicado.

Além disso, a falta de movimentação física contribui para o aumento de casos de obesidade infantil, um problema em ascensão relacionado ao estilo de vida sedentário.

O papel dos pais e cuidadores

Os pais e cuidadores desempenham um papel essencial na mediação do uso de dispositivos eletrônicos pelas crianças. Estabelecer limites claros para o tempo de tela e incentivar atividades que promovam o desenvolvimento saudável, como brincadeiras ao ar livre, leitura e interações sociais, é fundamental para garantir que o uso da tecnologia seja equilibrado.

O uso excessivo de telas é um desafio crescente no desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes. Embora a tecnologia faça parte da vida moderna, é importante equilibrar seu uso com atividades que estimulem o cérebro, promovam a saúde mental e fortaleçam as relações sociais. Quando necessário, recomendo uma avaliação profissional para identificar possíveis impactos e desenvolver estratégias personalizadas para cada criança.

O vício em telas pode trazer sérios prejuízos ao desenvolvimento cerebral de crianças e adolescentes, afetando áreas fundamentais como a cognição, memória, habilidades sociais e saúde emocional. O uso excessivo de dispositivos eletrônicos, especialmente sem supervisão, pode comprometer a capacidade de concentração, provocar isolamento social, distúrbios do sono e até problemas de saúde mental. Diante disso, o papel dos pais e cuidadores é crucial para mediar o tempo de exposição às telas, equilibrando-o com atividades que promovam o desenvolvimento saudável e integral das crianças.