TDAH ou dislexia? Entenda as diferenças entre os transtornos.
Dificuldades de atenção, leitura lenta, erros frequentes na escrita… esses sinais costumam gerar preocupação em pais e professores, especialmente durante os primeiros anos escolares. Mas será que estamos diante de TDAH ou dislexia?
Embora compartilhem alguns sintomas e possam coexistir, o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e a dislexia são condições diferentes, com causas, diagnósticos e tratamentos distintos. Saber identificá-las corretamente é fundamental para garantir o suporte adequado à criança ou mesmo ao adulto que convive com esses desafios.
O que é TDAH?
O TDAH é um transtorno neurobiológico caracterizado por desatenção, impulsividade e, em alguns casos, hiperatividade. Ele pode se manifestar em três formas:
- Predominantemente desatento: dificuldade para manter o foco, esquecer tarefas, parecer “no mundo da lua”
- Predominantemente hiperativo/impulsivo: inquietação, fala excessiva, dificuldade de esperar ou seguir regras
- Tipo combinado: quando estão presentes sintomas dos dois tipos
No ambiente escolar, o TDAH pode se manifestar por meio de baixo rendimento, dificuldades em seguir instruções, problemas de comportamento ou desorganização. No entanto, não afeta diretamente a capacidade de leitura ou escrita, os erros acontecem, muitas vezes, por falta de atenção ou impulsividade, não por incapacidade de compreender os símbolos.
Em adultos, o TDAH pode se expressar como desorganização crônica, procrastinação, instabilidade emocional e dificuldade em manter rotinas.
O que é dislexia?
A dislexia é um transtorno específico da aprendizagem, de origem neurobiológica, que afeta a fluência e precisão da leitura, a compreensão de palavras e a ortografia. Diferente do TDAH, a dislexia está diretamente relacionada à linguagem escrita.
A criança com dislexia pode apresentar:
- dificuldade para associar letras a sons (decodificação)
- leitura lenta, hesitante ou com trocas de letras
- erros ortográficos frequentes, mesmo após correção
- dificuldade para rimar, dividir palavras em sílabas ou identificar sons
Essas dificuldades geralmente se manifestam nos primeiros anos escolares, mas a dislexia pode permanecer não diagnosticada até a vida adulta, quando a pessoa encontra estratégias para compensar a dificuldade.
Importante lembrar: a dislexia não tem relação com inteligência. Trata-se de uma diferença no processamento da linguagem escrita, que requer acompanhamento especializado, mas não define a capacidade intelectual da criança ou do adulto.
Quais as semelhanças e diferenças?
TDAH e dislexia podem, em alguns casos, ser confundidos, pois ambos afetam o desempenho escolar. No entanto, suas causas, manifestações e impactos são distintos.
Veja algumas diferenças principais:
| Aspecto | TDAH | Dislexia |
| Tipo de transtorno | Neurodesenvolvimento (atenção/impulsividade) | Aprendizagem (linguagem escrita) |
| Causa dos erros | Desatenção, impulsividade | Dificuldade na decodificação |
| Leitura | Pode ser apressada, mas compreendida | Leitura lenta, com erros e dificuldades para compreensão |
| Escrita | Erros por distração ou pressa | Erros persistentes, fonológicos ou ortográficos |
| Comportamento | Inquietação, fala excessiva, distração | Comportamento geralmente adequado, mas com frustração escolar |
| Diagnóstico | Clínico, com base em critérios comportamentais | Avaliação multidisciplinar com foco em linguagem escrita |
Enquanto o TDAH interfere na forma como a atenção é mantida e direcionada, a dislexia afeta a capacidade de ler, interpretar e escrever com precisão. E mesmo que os dois transtornos possam gerar baixo rendimento e frustração, suas abordagens terapêuticas são diferentes.
É possível ter os dois transtornos?
Sim. TDAH e dislexia podem coexistir. Estudos indicam que cerca de 25% a 40% das pessoas com dislexia também apresentam sintomas de TDAH, e vice-versa. Essa condição é chamada de comorbidade.
Quando os dois transtornos estão presentes, o impacto pode ser ainda mais significativo, exigindo uma abordagem integrada com neurologista, psicopedagogo e fonoaudiólogo. O tratamento pode incluir:
- Medicação (no caso do TDAH, quando indicado)
- Intervenção fonoaudiológica e psicopedagógica individualizadas
- Adaptações escolares
- Terapias de linguagem e treino de leitura
O diagnóstico preciso é fundamental para evitar erros comuns, como tratar apenas o TDAH sem perceber a dislexia associada ou considerar desinteresse algo que, na verdade, é uma dificuldade real de processamento.
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Dislexia e TDAH não são a mesma coisa. Enquanto um afeta a atenção e o controle do comportamento, o outro interfere diretamente na leitura e escrita. Mas os dois transtornos podem coexistir e, quando não identificados corretamente, causar prejuízos importantes na vida escolar, emocional e social.
Se você observa dificuldades persistentes em leitura, escrita, concentração ou organização, o ideal é procurar um neurologista ou equipe multidisciplinar para uma avaliação completa.
Com diagnóstico precoce, acolhimento e intervenção adequada, é possível oferecer às crianças, e também aos adultos, as ferramentas certas para se desenvolverem com mais confiança, autonomia e qualidade de vida.