17/11/2025

TDAH e insônia: por que o cérebro não desacelera?

Por Dr Emerson Milhorin

O cérebro de quem tem Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) opera em ritmo acelerado e isso não muda quando chega a hora de dormir. 

Enquanto o corpo tenta repousar, a mente continua ativa, como se estivesse presa em um estado de alerta constante. Essa dificuldade de “desligar” está entre as razões mais comuns para a insônia em pessoas com TDAH.

As mesmas áreas cerebrais envolvidas na regulação da atenção, do foco e do controle da impulsividade também desempenham um papel fundamental no controle do sono. O córtex pré-frontal e o sistema dopaminérgico, frequentemente hiperativos no TDAH, dificultam a transição do estado de vigília para o descanso profundo. Isso explica por que o sono simplesmente não chega, mesmo diante do cansaço físico.

Outro fator importante é o relógio biológico. Muitos indivíduos com TDAH apresentam um atraso natural no ciclo circadiano, o que significa que a produção de melatonina, o hormônio que induz o sono, ocorre mais tarde do que o habitual. O resultado é uma tendência a dormir e acordar em horários mais tardios, o que frequentemente conflita com as exigências da rotina escolar ou profissional.

Além dos fatores neurológicos e biológicos, há comportamentos que agravam o quadro: o uso excessivo de telas antes de dormir, a ingestão de cafeína no fim do dia, o hiperfoco noturno em tarefas estimulantes e a ansiedade acumulada. Todos esses elementos mantêm o cérebro em modo de “alerta total”, impedindo que o descanso aconteça naturalmente.

As consequências não afetam apenas a noite. O sono fragmentado e de má qualidade compromete o desempenho durante o dia. Fadiga, irritabilidade, lapsos de atenção e aumento da impulsividade são sinais comuns da privação de sono e, quando combinados ao TDAH, formam um ciclo difícil de quebrar.

Por isso, tratar o TDAH vai além do foco e da atenção: é também tratar o sono. Quando o cérebro passa a operar em um ritmo mais regulado, o descanso noturno se torna mais profundo e restaurador. Intervenções médicas, ajustes no estilo de vida e estratégias de higiene do sono podem fazer toda a diferença.

Entender essa relação é o primeiro passo para quem busca mais equilíbrio, energia e bem-estar durante o dia e também durante a noite.